Opinião! DEMOCRACIA TRAÍDA: Quem ganha com a impunidade?

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A mobilização popular enterrou a “PEC da Bandidagem”, mas a aliança suprapartidária que a apoiou segue no poder. A luta pela representação real apenas começou.

O povo foi às ruas e venceu. A “PEC da Bandidagem”, que uniu adversários no Congresso para criar uma couraça de impunidade para a classe política, foi enterrada. A vitória, no entanto, não apaga a vergonha: enquanto propostas como a isenção do Imposto de Renda e a redução da jornada de trabalho mofam nas gavetas, nossos representantes foram ágeis para tentar aprovar a própria blindagem contra a Justiça. O ato revelou que o contrato de confiança que assinamos nas urnas foi quebrado, e só a pressão popular conseguiu, por ora, remendá-lo.

Nossa “democracia representativa” pressupõe que, ao votar, entregamos poder a um representante para que ele atue pelo bem comum. A PEC da Bandidagem foi a prova de que esse sistema está doente, com uma classe política que legisla abertamente em causa própria.

A proposta feria de morte o princípio da “accountability” – a obrigação de prestar contas. Ela criaria um “super-foro” onde um parlamentar só viraria réu se o próprio Congresso autorizasse. Era a raposa tomando conta do galinheiro. Essa impunidade já existiu no Brasil e protegeu criminosos condenados até por homicídio, como o infame “deputado da motosserra”. Era para esse passado vergonhoso que tentaram nos levar de volta.

É fundamental não esquecer quem fez parte dessa aliança. A proposta uniu o PL de Bolsonaro e Nikolas Ferreira, o Centrão de Arthur Lira com MDB, PP, União Brasil e companhia, deputados influentes em nossa região, como Dr. Frederico, Domingos Sávio e Luiz Fernando, e até parte da base do governo, como a maioria do PDT, do PSB e 12 deputados do PT. O discurso de “caçar corruptos” da “nova direita” se revelou o que sempre foi: pura fachada. Já a estratégia de “frente ampla” do governo Lula mostrou seus perigosos limites: ficou claro que jogar com interesses tão distintos o torna ainda mais refém de um Centrão que possui agenda própria.

Mas o povo fez do limão amargo uma limonada. A indignação pública com a PEC se transformou em luta e derrotou a impunidade. Essa vitória nos deixa duas lições claras: primeiro, caiu por terra a tese de que a corrupção pertence a um único partido. A votação tornou isso transparente. Segundo, e mais importante, a única força capaz de frear um Congresso que age contra o povo é o próprio povo mobilizado.

A pergunta que fica, depois dessa batalha, não é mais “o que você vai fazer para salvá-la?”, mas sim: “como vamos garantir que nossa democracia nunca mais precise ser salva?”.

Escrito por Diego Eymard.

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