Há um ano e meio, a tecnóloga Ana Carolina Hanum (44 anos), já não sabe mais o que é dormir um noite tranquila. A insônia é apenas um dos vários efeitos colaterais trazidos pela dívida das prestações do apartamento. Ela e o marido compraram o imóvel há cerca de quatro anos e vinham pagando em dia as parcelas de mais ou menos R$ 3.800. Até que ela ficou desempregada e a renda do marido também caiu. Nos últimos dias, ela recebeu uma correspondência que aumentou ainda mais a angústia: uma notificação do cartório com as seguintes opções: “ou quitam toda a dívida em 15 dias ou o apartamento vai a leilão”. “Não desejo essa sensação terrível para ninguém. Já pagamos R$ 210 mil. É o suor de muitos anos de trabalho”, desabafa.
Só no primeiro trimestre deste ano, a Caixa Econômica Federal tomou de volta 1.089 imóveis em Minas Gerais por falta de pagamento, segundo levantamento da Associação dos Mutuários e Moradores de Minas Gerais (AMMMG). O número é 40,8% maior do que os 773 tomados no mesmo período de 2017. Para não entrar para essa dolorosa estatística, Ana Carolina procurou a Justiça e pediu a revisão do valor da prestação. “Os advogados fizeram os cálculos e constataram que essa parcela estava abusiva e, em vez de R$ 3.800, eu deveria estar pagando cerca de R$ 1.900”, conta.
No entanto, o juiz não acatou o pedido, e ela terá que recorrer à segunda instância. Mas, antes disso, tem que pagar o que deve para impedir que o apartamento seja leiloado. “Minha dívida está em R$ 15.800, incluindo os atrasos e os juros. Se a Justiça acatasse a revisão, cairia para R$ 9.500. Estou muito triste, mas não vou desistir, continuarei brigando para provar que esse contrato foi leonino, com juros abusivos”, afirma Ana Carolina.